quarta-feira, 5 de maio de 2010

Da intimidade

Lembrei de um cara que conheci. Meio vago dizer isso,eu sei, mas eu realmente conheci.
Vamos a história.
Tinha uma locadora do DCE da faculdade e eu pegava muitos filmes, desculpa esfarrapada pra ir ver o cara gatinho que trabalhava nessa locadora. Ele que usava calças justas, o que eu achava muito sexy...tinha um estilo 'Rodrigo Amarante' mas não tinha barba (até pq homens de barba não usam calças justas,né?).
Enfim, esse cara, era totalmente blasè e eu obviamente adorava. Até que um dia, quando eu fui procurar um filme qualquer, olho pro balcão e...cadê o cara?? Tinha sido substituído por um cara qualquer que usava boné. Não existe nada pior pra um homem do que boné.
Eu estava arrasada, como que trocam o cara gatinho, blasè e estiloso por um carinha que usa boné???
Mas tudo bem, peguei um filme qualquer pra não perder a viagem e nem dei assunto pro tal novo atendente.
No outro dia, devolvi o filme e...tenho um branco ENORME na minha memória, só sei que eu comecei a conversar com o cara do boné.
Nessas idas e vindas, descobrimos muitas afinidades...livros, filmes, músicas, vegetarianismo, ele também escrevia umas coisas assim, tímidas como as minhas e que não mostrava pra ninguém...até amigos em comum nós tínhamos. E o boné nem deixava mais ele estranho...ele era uma graça!
Passei a ir na locadora todos os dias, ele me recomendou os melhores filmes que vi na minha vida. Falávamos sobre tudo, no horário de entrada, no intervalo das aulas e até quando eu matava aula, ficava lá pra conversar...era tão bom..a gente se entendia tanto.
Até que um dia ele me chamou pra sair...eu não tive dúvidas e aceitei. Nenhum dos dois foi ao encontro enós rimos muito disso depois.
Marcamos mais uma vez e novamente ninguém foi. Acho que a gente nunca precisou de um encontro ou algo assim pra que nos sentíssemos íntimos.
Um dia, combinamos de que cada um levaria tudo aquilo que tinha escrito e que era secreto, daqueles que a gente não mostrava pra ninguém. Mas não podia ser uma cópia, não, tinha que ser original, escrito a punho, o mais visceral  possível.
Levamos então, trocamos, e decidimos que cada a um ia levar pra sua casa, ler, e na noite seguinte devolveríamos e conversaríamos horas sobre os escritos de cada um.
Como combinado, voltei a locadora na noite seguinte...e ele não estava mais lá. Nem a locadora!! Foram embora sabe-se lá pra onde..e me restava apenas guardar os segredos dele.
Achei que nunca mais fosse vê-lo, até passar por ele na rua uns dois anos depois.
Não nos falamos, nem nos cumprimentamos, nada. Apenas nos olhamos nos olhos e sorrimos.
Eu sabia que os meus segredos estavam bem guardados com ele.