segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Menina que beijou A Morte

Esta é uma estória de amor.

A Menina costumava sorrir pra todos, sempre achou sorrisos algo muito importante, ainda mais nas noites frias, onde todos parecem igualmente frios.
Só havia uma pessoa pra quem ela nunca sorria, pois sabia que de alguma forma, deveria ser evitado.
A chamavam de Morte, mas não parecia ser. A Menina sempre a enxergava como alguém parecida com ela, outra menina, que os outros insistiam em achar de agressiva e petulante, mas ela sempre a viu como outra menina, doce.
As duas tinham sempre seus caminhos cruzados, talvez por serem caminhos tortos, mas sempre evitavam cruzar olhares, ainda que não entendessem o porquê.
Ao correr do tempo, evitar os olhares foi ficando cada vez mais difícil, até chegar um dia em que a Menina, deixou a canto de olho, fitar os olhos da Morte.
Um único olhar bastou para que a menina se sentisse hipnotizada pela Morte.
Ela era tão linda aos olhos da Menina. Petulantemente linda.
A Menina sentia algo tão forte, um fogo tão ardente dentro do estômago, que passou a acreditar que o que sentia pela Morte fosse ódio, e assim o alimentou por muito tempo.
Dado momento, aquele fogo que ardia se tornou algo suave e gostoso de sentir, e o ódio também se tornou bom. Por algum motivo, a Menina sentia uma necessidade enorme de olhar nos olhos da Morte e clamar todo aquele ódio, que ela gostava tanto de sentir.
Mas não era ódio.
Aos poucos a Morte também foi se aproximando da Menina, e elas reconheciam uma na outra, a mesma forma de olhar, e sentiam que aquilo não deveria ser ódio.
Os olhos da Morte passaram a ter uma enorme atração pelos olhos da Menina, e era recíproco, dando espaço também para sorrisos.
A Menina sentia algo de vazio no sorriso da Morte, mas ignorou, porque era delicioso cruzar olhares e trocar sorrisos.
Em outubro, quando o frio da noite e das pessoas se afastava, o calor que vinha das duas era cada vez mais intensos. Elas sentiam que estavam atraídas, havia algo na Morte que atraía a Menina cada vez mais, e o inevitável aconteceu.
Trocaram um beijo doce e tímido. A Menina não morreu.
Daquela noite em diante, a Menina não quis mais se afastar da Morte, e por muito tempo, elas seguiram seus tortos caminhos de mãos dadas.
A Menina se sentia tão segura em ter a Morte ao seu lado, e a cada beijo ela se sentia mais viva.
Chegou um dia em que a Morte fitou a Menina e disse: 'Vai. Merece viver'.
A Menina não quis aceitar e era incapaz de entender. Como a Morte poderia deixá-la se o seu coração seguia pulsando, seu sangue continuava correndo nas veias?
E desde o dia em que a Menina não beijou mais os lábios da Morte, seu corpo ficava mais vivo.
A Morte viera para deixar livre a alma da Menina.E para amar,porque o amor, já disseram, o amor também é uma espécie de morte.



Por Pablita Spielmann












"Essa morte constante das coisas é o que mais dói"
C.F.A